Wednesday 6 July 2011

Carta aberta em solidariedade à Universidade de Brasília

Carta aberta em solidariedade à Universidade de Brasília, em repúdio à reportagem “Madraçal no Planalto”, em repúdio à conduta jornalística do Sr. Gustavo Ribeiro e em repúdio à conduta jornalística da Revista VEJA.


Por Pedro Lara de Arruda, Mestrando em Relações Internacionais pela Universidade Indiana Jawahar lal Nehru (JNU), pesquisador do Centro Argentino de Estudios Internacionales (CAEI), pesquisador do Laboratório de Estudos da Ásia – USP (LEA – USP), pesquisador Jr. do Laboratório de Estudos Asiáticos da UnB.




Não fosse a precaríssima técnica jornalística, de escrita pobre e astúcia miúda, o sr. Gustavo Ribeiro bem poderia ser comparado a um outro jornalista de moral bestial e esquiva. Entre 1933 e 1945 Joseph Goebbels assumira a frente da propaganda Nazista, usando seu talento jornalístico para confundir, iludir, enganar e expiar a culpa de uma nação prestes a cometer a maior atrocidade da história. Em matéria publicada no último dia 04 de julho, o jovem Sr. Gustavo Ribeiro empurrou sua falta de talento aos limites e tentou recriar a propaganda autoritária sob o disfarce do jornalismo. Seu erro, porém, foi a escolha infeliz de um dos ambientes mais críticos, engajados e competentes deste país para a encenação de seu jornalismo amestrado (parafraseando aqui uma expressão que o próprio autor utilizou em uma de suas reportagens de caça ao PT).


Mesmo que sua fantasia travestida de jornalismo não tivesse falhas tão amadoras, como um claro maniqueísmo na exibição das imagens fotográficas; uma crítica arquitetada apenas pela ótica dos que se coadunam com sua visão (ou melhor seria dizer miopia?); e um sem número de referências a autoridades vagas e carentes de fontes claras (como no casos dos 'especialistas' e outras categorias míticas que ele prefere não nomear na construção de sua crítica inventada)... ainda assim a Universidade de Brasília contaría, como vem contando, com a voz dos mais distintos setores sociais para fazer saber a qualquer leitor suficientemente interessado que esta universidade histórica não retrocedeu 1 cm se quer em sua jornada rumo ao ensino de excelência e à inserção de seus agentes num debate político justo, plural, transparente e participativo. Por mais bem mascarado que tivesse sido o tendenciosismo na reportagem, ainda assim os procedimentos internos da universidade e a história de seu cumprimento serviriam de base para que os mais capacitados profissionais pudessem detectar na notícia o vírus do mau-caratismo e da má-fé.


A reação imediata da sociedade fez saber e deixou claro que as alegadas perseguições jamais poderiam ter ocorrido dentro do sistema administrativo da universidade, tampouco que o Professor José Geraldo tenha histórico ou interesses concretos que pudessem levá-lo a tanto. Vistas caso a caso, todas as alegações da reportagem se mostraram levianas e suas supostas vítimas revelaram-se símples descontentes cujas incapacidades pessoais as conduziram à perda de espaço acadêmico. Uma prova empírica de que a meritocracia, e não os editoriais da mídia corporativa ou qualquer outra forma de influência não-declarada, ainda são o norte desta universidade.


Sem repetir as minúcias que revelam a falsidade das informações da reportagem em questão, sinto-me obrigado a expressar por meio desta carta meu repúdio a esta instituição odiosa e criminosa que é a revista Veja. Nascida em pleno regime militar, a mesma revista que dedicou seis de suas primeiras edições a falar do “Monstro do Lago Ness” e seguiu esse mesmo editorial alienante e canalha até o fim da Ditadura, a revista veja decidiu que a caça ao PT despertaria mais o apetite de seus leitores que histórias mirabolantes e fantasmagóricas.


Nos últimos anos a revista concedeu ao PT o monopólio da corrupção nacional, publicou quase que exclusivamente matérias anti-petistas e usou o sensacionalismo para muitas vezes lograr sucesso em sobrepor-se às instituições nacionais. Diversos foram os casos em que a Veja passou à frente dos processos executivos, legislativos e judiciários fazendo da desinformação em massa seu instrumento para cooptação das instituições brasileiras. Acostumada a usar a debilidade das instituições para sobrepor-se a elas próprias, a revista Veja obteve considerável sucesso ao usar a corrupção generalizada para controlar o legislativo, o executivo e o judiciário. Na inércia dos gananciosos, porém, esta inimiga do povo precipitou-se sobre uma instituição sadia, onde o jornalismo verminoso da Veja não encontrou a podridão típica em que se prolifera.


Confortável o suficiente para reportar ficção em tempos de chumbo, a Veja parece ter se inquietado com o fato de o atual Reitor da UnB ser vinculado ao seu vilão predileto – o PT. Apontando para a reportagem um yuppie ignorante o suficiente para ignorar os limites das preferências individuais do Reitor sobre os destinos da Universidade, o propósito desta revista inimiga do povo foi o de desacreditar toda uma instituição como forma de ferir seu representante máximo. Além de egoísta por não considerar o universo de agentes possivelmente feridos com este golpe descontrolado, a revista Veja foi também ordinária, como de costume, ao aliar seu ataque pessoal ao Reitor com uma porção de corruptos de lugar cativo nos corredores do mandonismo midiático.


Apesar das discordâncias existentes entre os diversos grupos dentro da prórpia UnB, há um elemento de coesão entre eles que ficou evidente no tom das diversas cartas de repúdio enviadas: A crença na capacidade institucional da UnB em gerênciar estas divergências de forma democrática. Ou seja, coibindo-se excessos, perseguições e assegurando-se o direito participativo das minorias.


Quando os próprios grupos conflitantes no palco democrático da universidade saem em uníssono para defender a excelência democrática e acadêmica da universidade o que mais preocupa é saber que as avaliações consistentes são impedidas de fazerem frente a essa parcela da população que ainda acredita na Veja. É triste e assustador notar que o testemunho de pessoas verdadeiramente devotadas a esta universidade talvez nunca venham a ter os meios de circulação de que gozam jornalista fedelhos e mentirosos. Tolerar este aceitamento passivo de informação em massa é convidativo para que um jornalista um pouco menos desastrado emerja como um novo Goebbels maquiando com cuidado o novo rosto do fascismo e ferindo sem piedade as poucas instituições sadias o suficiente para protegerem os valores da justiça e da democracia.






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