Sempre odiei café,
nunca vi graça naquele copinho de pretume e cheiro forte
não me fazia sentido sentir o gosto do quente
mas hoje,
de repente,
o diabo do pretinho me chamou com força
e quando menos notei estava num shopping de madame,
ouvindo uma bossa que nunca foi o meu forte,
lendo pra esquecer das fraquezas,
e me afogando naquela negridão dos infernos,
...
que me lembrava o lar,
e descia quente esfriando um pouco do calor que me consumia.
Eu precisava daquele gole pra não me afogar pra sempre,
naquele gosto que odeio encontrei um prazer que achava ter perdido
por ai
Enquanto me sentia forte naquela poltrona,
sentia o cheiro de café moído,
e bebia
sem açúcar
aquele pretinho feio,
e não entendia
porque estava feliz
...
e o Poetinha
me dizia,
que pra fazer um samba com beleza,
era preciso um bocado de tristeza,
e que é melhor ser alegre que ser triste,
que a alegria é a melhor coisa que existe.
E justo hoje,
que eu queria tanto fazer um samba,
acabei aprontando poesia.